As empresas familiares são o motor da economia no Brasil. Atualmente esse tipo de empresa representa 90% do mercado. As empresas familiares movimentam todo o setor de produtos e serviços em uma imensa gama de atividades e representam 60% dos empregos formais do país. Diante dessa representatividade e relevância para a economia, precisam estar preparadas para se manter no mercado.
Pesquisas realizadas mostram que, de cada 100 empresas familiares abertas e bem sucedidas, 30 chegam à segunda geração e 15 à terceira. Uma transição do patriarca fundador para seus herdeiros não estruturada, realizada com conflitos ou de forma inesperada pode levar a sociedade a uma administração equivocada ou à ruina,
Para se manter no mercado com crescimento, desenvolvimento e perenidade, é preciso pensar no futuro e fazer um planejamento adequado, não só das atividades de gestão, governança, mercadológica, mas, também, da sucessão na direção dos negócios.
Empresas familiares possuem características únicas e são um campo aberto e fértil para o surgimento de conflitos entre os entes participantes (pais, irmãos, agregados). Pelo fato da empresa familiar possuir sobreposição dos campos organizacionais de um patrimônio e empresa (propriedade, família e gestão) o surgimento de conflitos é quase que inevitável.
Deste modo, podemos citar, por exemplo, alguns dos mais comuns conflitos/características:
– Empresas familiares possuem estrutura complexa, geralmente a gestão empresarial está relacionada a titularidade das quotas/ações;
– Os familiares são ligados emocionalmente com a empresa – o patriarca trata a empresa como ente da família;
– Existência de cônjuges e companheiros que se tornam sócios por processos de separação;
– Dependência econômica da família exclusivamente dos lucros da empresa;
– Herdeiros que possuem os dividendos como única fonte de receita. Se a empresa não atingir o patamar desejado ou decidir reinvestir os lucros surge a hipótese de conflitos;
– A empresa e o faturamento cresce menos que a família (ingresso de agregados, netos) e a família necessita de mais dividendos para manter o padrão de vida; a partir do momento que todos os entes familiares dependem da distribuição de lucros da empresa, e a mesma não corresponde com o aumento da lucratividade o ambiente se torna fértil para conflitos.
– Se um herdeiro exerce cargo de gestão e possuem um melhor padrão de vida por sua competência, outros herdeiros tendem a questionar a evolução patrimonial;
– Patriarca que possui dificuldade em se afastar da empresa, deixar sua história para trás – dificuldade de entender o momento em que a instituição se tornou maior que seu fundador;
– Patriarca que centraliza todas as decisões da empresa e da família – possibilidade de conflitos.
Esses são alguns dos principais conflitos no ambiente empresarial familiar, que caso não organizados podem, sem dúvida alguma prejudicar a continuidade da atividade empresária.
A falta de um planejamento/organização adequado, em relação ao patrimônio pessoal dos sócios e ao patrimônio das empresas, é um exemplo de atitude que pode ser devastadora para o negócio, principalmente quando ocorrem mortes prematuras, divórcios e incapacidades, de forma inesperada.
Desta forma, ante ao exposto, para empresas familiares recomenda-se a estruturação de mecanismos para regularizar e principalmente profissionalizar a gestão do patrimônio. Para essa finalidade surge como opção as normas de governança corporativa jurídico familiar, como por exemplo, constituição de holdings, Acordo de Quotistas/Acionistas, Protocolos Familiares, Family Office.
Com esses mecanismos a empresa familiar estará profissionalizada, podendo focar seus objetivos nas atividades operacionais, desenvolvimento de mercados, tecnologias, enfim, estando as questões societárias e sucessórias pré-definidas os membros atuantes se dedicarão exclusivamente para o crescimento e perenidade da empresa familiar.
Autor: Diego Viscardi